segunda-feira, 4 de julho de 2016

Procurando Dory | CRÍTICA


Antes mesmo de se lançar em narrativas existencialistas, tais como Wall•E, Up - Altas Aventuras, Toy Story 3 e Divertida Mente, a Disney•Pixar tinha dado um mergulho certeiro ao contar em Procurando Nemo uma relação nada perfeita entre pai e filho, algo que seria remediado só pelo esforço de se aventurar pela imensidão do oceano e enfrentar seus perigos inesperados. Ainda que levemente pessimista em algumas passagens, os visuais encantadores e as dezenas de piadinhas foram um marco para uma geração, tão logo ansiosa para a continuidade das aventuras de Nemo, Marlin, Dory ou qualquer outra criatura aquática que encontrassem em seu caminho. Mais livre, leve e solto do que aparenta, Procurando Dory continua a nadar na corrente de que a amizade é tão importante quanto a família.

Um ano depois do resgate do pequeno peixe-palhaço, a rotina parece a mesma no colorido recife australiano, salvo o exercício diário de ajudar Dory (Ellen DeGeneresMaíra Góes) a retomar informações que fogem ao ponto de qualquer distração que vê pelo caminho. Mas são essas distrações, no entanto, que fazem a esquecida tang azul lembrar de vislumbres do passado, do tempo que ainda era uma adorável peixinha aos cuidados de um pai e uma mãe receosos pela "perda de memória recente" da filha. Cada fragmento de lembrança, dados por inúmeras sequências de flashbacks, então, acaba levando o trio principal a uma nova viagem pelo Pacífico, chegando ao Instituto de Vida Marinha nas encostas da Califórnia onde, guiados pela voz de Marília Gabriela (Sigourney Weaver no original), se metem em novos apuros (muito semelhantes aos do longa de 2003) e fazendo amizades com as espécies moradoras do local, todos tão imperfeitos quanto o trio: o beluga Bailey não consegue "desbloquear" seu radar, a tubarão-baleia Destiny não enxerga bem seus destinos, o estado meio depenado da Beca, uma mobelha-do-pacífico, leva a crer que a ave não tem um bom senso de direção e o habilidoso Hank (dublado aqui por Antônio Tabet), um polvo de sete braços, parece ser completamente avesso a ter uma vida marinha de novo – uma interessante história pregressa que vai ficar pra uma próxima oportunidade.



Ao longo de sua filmografia, a Pixar sempre se colocou no desafio de avançar tecnologicamente sem prejudicar a qualidade narrativa de seus filmes, proporcionando histórias cativantes e, para muitos, inesquecíveis. Tropeços a parte com alguns títulos, o que se vê agora no filme co-dirigido por Andrew Stanton e Angus MacLane (responsável pelos curtas Burn-E e Toy Story de Terror) é um conto mais despretensioso do que o esperado, sem o peso dramático de se colocar dois peixinhos a ponto de serem devorados por qualquer criatura maior no oceano, ou até mesmo a sensação de pânico de se nadar numa zona abissal. 

Enquanto ficamos deslumbrados com as melhorias gráficas, vide as ondulações e reflexos na água cada vez mais refinados, a iluminação refratada que proporciona passagens emocionantes para os personagens que, por sua vez, ganham movimentos mais apurados e escamas, peles ou penas mais definidas, Procurando Dory se deixa levar pelo bom-humor e não se contém em soltar piadas divertidas, sejam elas verbais ou visuais, abraçando a comédia pastelão, e brinca até mesmo com a coincidência das ações de cada filme. Até o "baleiês" não é esquecido e tem sua origem apresentada logo após um momento de breve tensão. Se o perfil franzido insuportável de Marlin e os excessos de flashbacks deixam a experiência um tanto quanto cansativa e redundante, chegando a ser irônico Dory lembrar que se esqueceu de tal detalhe de seu passado e assim relembrá-lo, o filme não tem medo de se arriscar em uma passagem no terceiro ato digna de tirar o fôlego, sendo hilária justamente por beirar uma situação impossível – e não menos fofa.



Em Divertida Mente, um dos pilares essenciais para o bem-estar de Riley era seu acervo de memórias com a família. O mesmo pode-se dizer de Dory aqui, com uma alegria e força de vontade ímpar para reencontrar seus pais mesmo quando tudo parece estar perdido, onde, abatida pela tristeza, abraça suas poucas lembranças afetuosas da infância na tentativa de reencontrar um caminho. Como Piper, a pequena ave marítima apresentada no curta-metragem (brilhante em todos os aspectos, diga-se de passagem) antes do filme, a persistência é um desafio de repetição e de encontrar oportunidades em coisas inusitadas, até mesmo nas conchas. 

Ainda que prefira nadar em águas rasas, evitando discursos profundos, e não traga tantos momentos inéditos ao seu universo aquático, esquecendo também de seus antigos protagonistas, de qualquer forma, Procurando Dory (Finding Dory) está acima de outras animações de estúdios "concorrentes". Se suas cenas serão esquecidas ou ainda ofuscadas pelo antecessor, só o tempo dirá, mas que fique aqui a lembrança de um bom programa para risadas e a mensagem pertinente de nunca desistir de quem se gosta, seja em terra ou no mar.  



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