segunda-feira, 15 de junho de 2015

A Proletarian Winter's Tale | CRÍTICA (4º Olhar de Cinema)


No debate que sucedeu a primeira sessão (lotada) de A Proletarian Winter's Tale, o diretor Julian Radlmaier afirmou que sua obra, embora com um bom contexto social, procura evocar o surrealismo. Não por menos, o castelo alemão onde os três imigrantes da Geórgia passam a trabalhar com todo o desleixo permite muito mais que a divagação; sonhos e contos passam a ser revelados pelos três enquanto tramam um plano arriscado, em meio a uma curiosa e sutil comédia.

Quem gosta dos filmes de Wes Anderson, é bem provável que aprecie o primeiro longa de Radlmaier. Há cenários luxuosos, atuações cheias de marcações que se misturam entre o cômico e o formal, além de um texto insano – e entendam isso de forma positiva! Filmado no aspecto de tela 4:3, há em A Proletarian Winter's Tale uma economia de planos suficientemente funcionais, predominando enquadramentos abertos que, mesmo assim, nos conferem surpresas. Apesar de raros movimentos de câmera, é como num teatro: personagens surgem naquele espaço sem serem anunciados a não ser por seus passos ou falas a caminho. A cena em que Maka (Natia Bakhtadze) e seus colegas Otar e Shota estão prestes a subir as escadas a caminho da festa do patrão, por exemplo, é icônica. Não só por colocar o trio a representar uma comédia pastelão, mas por trazer personagens terciários que contêm em suas falas críticas, embora generalizadas para a ocasião, à política e à sociedade globalizada, sempre envolta de interesses particulares. Há um bom trabalho na iluminação também, mas parece não ter ocasião para proporcionar personagens memoráveis.


Considerando que muitos títulos atuais trazem excessos de cortes, mal proporcionando um respiro para o próprio filme e espectador, ou ainda, no caso de algumas obras que se estendem na duração de seus planos sem nos dizer absolutamente nada, Radlmaier se apega a ações em segundo plano que se tornam um bom contraste entre os dedicados funcionários do castelo e o preguiçoso e faminto trio, que recorrem aos seus contos fantasiosos para engajar força para quebrar as regras. Afinal, a luta de classes vem à tona quando bate a fome.


  

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