terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) | CRÍTICA


Há algo em comum entre Whiplash e Birdman. No primeiro, acompanhamos a trajetória de um jovem baterista se esforçando para ter seu momento de glória e não ser esquecido. Já no filme de Alejandro G. Iñárritu, um decadente ator tenta voltar à fama montando uma peça na Broadway, mas está longe de alcançar visibilidade e ainda é assolado pela figura de seu personagem mais famoso, de 22 anos atrás. Não que esteja esquecido, mas pelo menos Michael Keaton consegue um retorno triunfal, explosivo e divertido com Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância).

Os problemas de Riggan Thompson (Keaton) são vários: um ator coadjuvante persiste em erros, sendo substituído pelo pedante e orgulhoso Mike (Edward Norton), que é casado com Lesley (Naomi Watts), que também faz sua estreia na Broadway. Pra completar, uma atriz pode estar grávida dele e Riggan "faz" questão de ter a filha, Sam (Emma Stone, sempre incrível) como sua assistente na peça, a fim de recompensar os anos de ausência e evitar que ela caia em outra recaída.



É difícil escolher o elemento mais divertido de Birdman. Talvez seu roteiro, escrito pelo próprio Iñárritu, repleto de um humor ácido e críticas pouco sutis, em especial quando Tabitha (Lindsay Duncan), uma renomada crítica teatral do New York Times acusa Riggan de ser apenas uma celebridade, e não um artista autêntico, ou quando, ainda na procura de um ator substituto, o diretor fica inconformado ao saber que os atores do momento estão fazendo filmes de super-heróis.

Ou quem sabe a opção de terem filmado em planos-sequências? Praticamente um mestre do recurso, Emmanuel Lubezki (Gravidade, Filhos da Esperança) fotografa com organicidade e aproveita as luzes dos ambientes para criar contrastes distintos que acabam combinando com as características de cada personagem, mesclado com os vários solos de bateria que entram e saem da diegese com um groove contagiante, criando um ritmo entre as falas que muitas vezes soam poderosas e agressivas como um rap. Além disso, as marcações do elenco dentro das sequências parecem tão precisas que, excetuando um ou outro momento de over-acting (proposital?), fica difícil ofuscar até os mais repentinos coadjuvantes. Cada um, no geral, tem seu timing exato para brilhar – e jogar mais verdades no aturdido Thomson.



Descontando um certo número de confrontos exaustivos entre Riggan e Mike, eis que Birdman flerta com o surreal, cria asas e parte para questões existencialistas, ainda mais neste momento delicado em que existir (para o mundo) requer uma rotina de aparências, seguir padrões industriais e criar contas em redes sociais, velando ou até se esquecendo do que mais deseja ser ou o que sempre foi dentro de si.




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